sábado, 9 de junho de 2012

O cérebro do Adolescente


O Cérebro do Adolescente
Como é o desenvolvimento cerebral na adolescência e como isso afeta o comportamento do adolescente?
Antes de falarmos a respeito do desenvolvimento do adolescente em seus vários aspectos, temos que tratar do cérebro do adolescente, assim, teremos uma visão melhor quando tratarmos dos aspectos cognitivos e emocionais. Esse é um assunto muito técnico, e vamos abordar de maneira bem objetiva e sintética, apenas para dar-lhe uma visão de como funciona o cérebro do adolescente e como isso pode repercutir em seu comportamento, pois esse conhecimento é imprescindível para quem lida com essa faixa etária.

O cérebro do adolescente ainda está em desenvolvimento. Há mudanças dramáticas nas estruturas cerebrais envolvidas nas emoções, no julgamento, na organização do comportamento e autocontrole que ocorrem entre a puberdade e o início da vida adulta, isso pode ajudar a explicar as ações e reações dos adolescentes.


Duas importantes mudanças no cérebro do adolescente são semelhantes a processos que ocorrem antes do nascimento e durante a infância: o crescimento e a inibição da matéria cinzenta. Um segundo surto na produção de matéria cinzenta – neurônios, axônios e dendritos – começa pouco antes da puberdade e pode estar relacionado ao repentino aumento na produção de hormônios sexuais nessa época. Segundo ACT for Youth, 2002; NIMH, 2001b, o surto de crescimento ocorre principalmente nos lombos frontais, que controlam o planejamento, o raciocínio, o julgamento, a regulação emocional e os impulsos. Após o surto de crescimento, conexões não utilizadas são inibidas e aquelas que permanecem são fortalecidas.

Entre os 6 e 13 anos ocorre um notável crescimento em conexões situadas entre os lombos temporais e parietais, que lidam com as funções sensoriais, a linguagem e a compreensão espacial. Os adolescentes processam a informação sobre as emoções diferentemente dos adultos. Pesquisadores escanearam a atividade cerebral de adolescentes enquanto esses identificavam emoções em imagem de faces em uma tela de computador, jovens no começo da adolescência, de 11 a 13 anos, tendiam a usar a amígdala, uma pequena estrutura em forma de amêndoa localizada no lombo temporal e que está fortemente envolvida nas reações emocionais e instintuais.

Adolescentes mais velhos estavam mais propensos a usar o lombo frontal, que permite julgamentos mais precisos e razoáveis. Assim, no começo da adolescência, o desenvolvimento ainda imaturo do cérebro talvez permita que os sentimentos se sobreponham à razão, seria esse um provável motivo para que alguns juvenis façam escolhas precipitadas, além disso, sistemas corticais frontais ainda não desenvolvidos associados à motivação; impulsividade e adição talvez expliquem a busca de excitação e novidade entre os adolescentes, e também por que muitos deles têm dificuldades de se concentrar em metas a longo prazo e dar atenção devida a advertências que parecem lógicas e persuasivas para um adulto.
Segundo especialistas, adolescentes que “exercitam” o cérebro aprendendo a ordenar seus pensamentos, entender conceitos abstratos e controlar seus impulsos estão lançando os fundamentos neurais que serão utilizados pelo resto e suas vidas. 

“(...) Paul Thompson, neurologista americano, do Laboratório de Neuromapeamento da Universidade da Califórnia faz parte de uma equipe de cientistas que vem mapeando o cérebro de cerca de 1 000 adolescentes com técnicas avançadas de tomografia.As descobertas são surpreendentes, especialmente se considerarmos que até a alguns anos, era consenso científico que o cérebro completava seu crescimento na infância e não se alterava mais. Hoje se sabe que várias estruturas cerebrais seguem evoluindo durante a adolescência (veja quadro), embora nem todas cresçam. A idade em que essas mudanças se processam varia. O cérebro das meninas desenvolve-se cerca de dois anos mais cedo, mas homens e mulheres costumam emparelhar lá pelos 20 anos. De forma geral, no início da adolescência ainda está em processo uma mudança que começa entre 7 e 11 anos. É quando crescem certas regiões cerebrais ligadas à linguagem, como a área de Broca, uma pequena estrutura dentro do córtex pré-frontal. O processo costuma chegar ao fim antes dos 15 anos. No período de desenvolvimento, notam-se grandes progressos no uso da escrita – é a idade ideal para aprender novas línguas. A mudança maior começa pelos 18 anos e pode avançar até os 25. É quando o córtex pré-frontal amadurece, consolidando o senso de responsabilidade que falta a tantos adolescentes. "O córtex funciona como o presidente de uma grande empresa, centralizando as decisões. É por isso que às vezes o cérebro adolescente parece uma empresa sem presidente", brinca Thompson.” (Veja, edição especial, junho, 2004.)



Uma das mudanças primordiais diz respeito a uma nova qualidade da mente caracterizada pela capacidade de pensar de forma sistemática, lógica e hipotética. Essa manifestação desse novo modo de pensar é a tendência dos adolescentes para se tornar críticos. O pensamento operacional formal sinaliza a mudança do pensamento em termos concretos e liberais para o abstrato, isso faz com que o adolescente possa lidar com ideias e conceitos, não precisando mais fixar-se em objetos concretos para compreender. Estão mais interessados em ideias do que em fatos e são capazes de começar a lidar com conceitos éticos e morais, como justiça e amor. As palavras podem ter significados literal e conotativo, conseguindo perceber ironias e sarcasmos e compreender metáforas, símiles e prosopopeias. Surge a habilidade de desenvolver hipóteses e argumentação se algo está certo ou não.
Um adolescente no estágio das operações formais é capaz de pensar em uma série de possibilidades e suas consequencias, ele pode lidar com todos os tipos de situações hipotéticas e construir teorias. Podem pensar sobre o próprio pensamento e assim, colocar-se no lugar da outra pessoa.
Vale ressaltar que, como o pensamento operacional formal não se desenvolve todo de uma vez, em uma classe de adolescentes, haverá alunos com habilidade de pensar em diferentes níveis.

Os mitos sobre o cérebro dos adolescentes
Mesmo com muitos avanços dos estudos sobre o cérebro humano, as pesquisas ainda prosseguem trazendo novas e surpreendentes descobertas.
Mito 1: Adolescentes são incontroláveis
Embora adolescentes sejam afeitos a paixões mais fortes e tenham dificuldade em freios devido sua imaturidade cerebral, não significa que sejam incontroláveis e fatalmente levados por seus impulsos justificados em seu grau de maturidade do córtex pré-frontal. Isso se constitui um mito sobre o cérebro dos adolescentes.
Por exemplo, podemos encontrar em adolescentes de uma mesma faixa etária e grau de maturidade cerebral, mas que tomam posicionamentos diversos por causa de outros fatores de suma importância para sua formação e desenvolvimento. Veja, há adolescentes que controlam perfeitamente seus impulsos sexuais com a namorada, e isso não se deve ao grau de maturidade cerebral, mas por causa de princípios morais e religiosos ensinados por seus pais, que lhe dava a consciência de pecado e suas consequencias, dando-lhe consciência de prejuízos para sua alma e futuro.
Outros fatores estão sob influência no adolescente como a participação dos pais em sua educação e limites, o que pode ser um grande diferencial no exercício das atividades cerebrais que lhe proporcionarão maior controle e melhor tomada de decisões.
Mito 2: os adultos são melhores
O fato de o cérebro do adolescente ser menos maduro não o faz inferior como ser humano e nem incapaz, pelo contrário, segundo Robert Epstein, ex-director do Psychology Today (Psicologia Hoje) e chefe do setor de colaborações do Scientific American, rebate as teorias do cérebro adolescente, afirmando: “Os adolescentes mostram-se tão capazes quanto os adultos, em um amplo espectro de qualidades. Já foi comprovado que superam os adultos em provas de memória, inteligência e percepção. A tese de que os adolescentes têm um ‘cérebro imaturo’, o qual necessariamente é causador de crises, resta totalmente desmentida se nos concentramos na investigação antropológica que se faz no mundo, hoje em dia. Os antropólogos encontraram mais de cem sociedades contemporâneas, nas quais a chamada crise da adolescência não existe. Aliás, na maioria dessas sociedades, nem sequer há uma palavra para designar a adolescência. (extraído de Aceprensa, 2008-02-11, publicado no site Mujer Nueva).

Mito 3: Todo adolescente tem crises incontroláveis – é rebelde e inconsequente.
Embora os fenômenos neurológicos e fisiológicos sejam presentes em todo adolescente, cada adolescente é um adolescente. Não podemos classificá-los e nem determinar suas ações ou reações de modo determinista e fatalista apenas tomando como base seu desenvolvimento cerebral e as repercussões disso no adolescente. Conscientes de que existem as chamadas “crises” na adolescência, o grau delas e suas proporções variam e não são uniformes em todos os adolescentes. Por isso, é importante o cuidado de não adjetivar os adolescentes de modo exagerado, nem positivamente, nem negativamente, mas conhecer cada um como de fato é.
Não vamos subestimar os adolescentes, eles não são rebeldes, libertinos, irresponsáveis, promíscuos e inconsequentes, existem uns que são, mas há adultos assim também, os adolescentes precisam de bons exemplos e referências, e principalmente de confiança, eles  são capazes de tomar decisões acertadas e conscientes também.
Veja abaixo uma nota escrita por Thomas Lickona em seu artigo sobre a castidade na adolescência:
“ (...) os estudos antropológicos de longa duração, feitos em Harvard nos anos oitenta (...) apresentam abundantes dados indicativos de que, quando se confere aos jovens verdadeiras responsabilidades e a possibilidade de interagirem com adultos, esses jovens aceitam prontamente o que é reto e o que é justo, deixando transparecer o ‘adulto que levam dentro de si’” . (Education Week, 4-4-2007).

O mais lastimável erro que podemos cometer em matéria de educação – sem dúvida, o pior em educação do caráter e com respeito à castidade – é subestimar a capacidade de nossos alunos. Tenho uma amiga que agora é dirigente do movimento para educação na continência. Ela mesma conta que na sua adolescência era promíscua. Era tão maltratada em casa que cometia pequenos delitos só para poder desfrutar da relativa segurança que lhe oferecia o sistema prisional.

Ali foi vê-la, certa vez, um orientador, a quem ela se abriu com relação à insensata vida sexual que até então tinha levado. Ele a tratou respeitosamente e com carinho, animando-a a comportar-se com maior dignidade e mais disciplina daí em diante. Hoje ela se sente uma mulher feliz, é casada, mãe e educadora  respeitada.

Como ela própria declara: “Que teria sido da minha vida se aquele orientador me tivesse dado um preservativo, em vez de acreditar no que eu podia, e ter confiança em mim?”.
Com o apoio adequado, os seres humanos, quando se lhes propõem metas elevadas, tendem a esforçar-se para alcançá-las. A castidade é difícil, como tudo o que vale a pena na vida. É hora de que todos unidos, escolas e genitores, subamos de nível.

Em suma, adolescentes não precisam necessariamente ser irresponsáveis, inconsequentes e incontroláveis porque ainda estão em desenvolvimento cerebral, eles podem fazer escolhas acertadas hoje, enquanto adolescentes, podem controlar-se sexualmente, mesmo com o forte apelo da mídia, podem ser responsáveis, podem aprender lidar com seus conflitos de modo inteligente, enfim, precisam apenas de quem os trate com confiança, ensine limites e os ajude a alcançar o nível de maturidade que precisam para vida adulta.
Próximo pôster, veremos o desenvolvimento do adolescente nos vários níveis a partir das mudanças de pensamento e nas emoções...aguardem!

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